sábado, 31 de outubro de 2009

Sem comentarios...

Nunca gostei de ir a cemitérios, mas de á 11 anos para cá que sinto necessidade de ir lá, porque é a única forma de matar saudades de um ente muito querido. Normalmente, fico lá algum tempo para que possa sair de lá um bocado mais 'leve'. Nisto reparo, que nem todos os entes que moram lá, têm visitas, reparo que nao têm flores, ou se tiverem precisam de ser mudadas urgentemente. Se nao for este o caso, as pessoas vão lá 'numa corrida' tratam mais ou menos da aparencia da campa, ou seja, encaram a ida ao cemitério como uma obrigação. É triste.

Mas há excepeções, há pessoas que vão lá quase todos os dias da semana, choram, rezam, tratam da campa e estão lá, para que possam 'matar' as saudades que sentem. Outras pessoas passam lá imenso tempo a falar.

Reparo também, que quando há alturas especiais de ano, como esta, altura de Todos os Santos, toda a gente vai lá, como que por obrigação mudar as flores, limpar a campa...etc, como se os outros dias nao fossem dias 'especiais' para fazermos uma visita a quem tanta falta nos faz, a quem gostamos...

Mas desde as minhas idas ao cemitério tenho reparado que este é um lugar onde ninguém tem vergonha de chorar, deve ser talvez dos poucos locais onde as pessoas deixam os sentimentos fluirem e nao prendem as lágrimas, nao prendem gritos ou gemidos. Demonstram o que lhes vai na alma, sem receios ou medos. Porque hoje em dia, as pessoas escondem as suas lágrimas, fazem-se parecer muito fortes, como se nada lhes afectasse. Mas quando estamos num cemitério percebemos que ali todos somos sensiveis, todos sentimos dor, todos sofremos e por isso choramos.
Ali ninguém tem vergonha de dar a mão ou até mesmo de acalmar a dor de outra pessoa com um beijo, na bochecha ou ate mesmo na testa. Ali, ninguém nos olha de lado, como se estivessemos a cometer algum crime ao chorar.
Ali, as pessoas são frágeis e nao se importam com isso. Ali, todos estamos em pé de igualdade. Ali, nao há pessoas fracas ou fortes, há pessoas, há sentimentos...ali nao há interesses, há amor.


[Tenho saudades tuas, saudades de estar contigo em frente á televisão e de adormeceres. Saudades de ir contigo a passeios organizados por ti, onde não faltavam sorrisos. Saudades de andar na tua carrinha sem destino, ir contigo á junta de freguesia e parecer muito crescida e entendida no trabalho que fazias. Saudades de te ajudar a escrever as atas, que ficavam sempre pior com a minha ajuda. Saudades de tomar o pequeno almoço contigo e com a avó ás escondidas dos pais! Saudades de como era tão feliz contigo. Saudades...tudo se resume a isso...]

2 comentários:

  1. Há pessoas que simplesmente não conseguem ir a cemitérios... Pessoas que preferem recordar os seus entes queridos enquanto pessoas vivas e alegres e não na tristeza de um cemitério... Pessoas que nao sentem a presença daquela pessoa naquele local...

    Há pessoas que vão ao cemitério para tentar matar um pouco as muitas saudades que têm e que sentem que é o seu dever estar naquele local. Há outras que não conseguem...

    Eu sei o que sentes... não há NADA pior do que perder alguém que se ama muito. Nada...

    Beijinho e muita força!

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  2. O mais importante não é o corpo, é a alma. O corpo acabou ali e ali está guardado, mas não é ali que a pessoa está... o teu avô está em ti, no teu coração e na tua vida, para sempre. O que ali foste visitar foi a representação física dele, um organismo que parou de funcionar. A pessoa do teu avô, a essência do teu avô, continua viva, pelo simples facto de haver pelo menos uma pessoa no mundo (tu) que não se esquece e tem saudades dele.
    Sinceramente, o cemitério e o ritual das flores (principalmente este) são coisas que nunca me disseram muito. Ainda consigo compreender (e provavelmente fá-lo-ei no futuro) que alguém vá àquele lugar por se sentir mais perto do outro, mas as flores... sinto que às vezes é só fogo de vista, assim como várias outras coisas que existem na religião... "minha senhora da solidão, minha senhora das dores (...) tens um ai encravado na boca, que dia após dia te sufoca, precisas de bem mais que uma simples oração" (Jorge Palma).

    Beijinho*

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